Fizemos o maior evento Latino Americano de Software Livre. A Latinoware, da propaganda ali do lado. Informática, tecnologia da informação, software, sistemas, linguagens computacionais, códigos e padrões abertos pode parecer algo muto distante de ideologias. Pode parecer, mas ideologia não é uma doença que os outros tem, como diz um velho sindicalista, aqui das araucárias.
TUPI OR NOT TUPI: a torre de babel
Sempre que tento explicar o Brasil para um estrangeiro, cito o Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade. A minha tradução do manifesto é a capacidade do brasileiro adaptar-se a tudo, engolir tudo que aparece, informações, tecnologia, modas, hábitos, modos de viver, e vomitar tudo isso a nossa maneira. Fazemos isso com nossos americanismos. Somos um país exótico, e nos vemos iguais através da exoticidade alheia. Adoramos os gringos, desde que loucos, as modas francesas, desde que improváveis, os eletrônicos de Taiwan, desde que inusitados. O imperialismos cultural sobre o Brasil é sempre adaptação, sincrético. Veja o que fizemos com o emblemático cheese-salad, para transforma-lo no nosso X-Tudo, presente em qualquer placa de lanchonete de estrada (já ouvi história que foi por causa de falta de letras daquelas placas pretas, com caracteres destacáveis). Se duvida, faça uma pesquisa no grande oráculo contemporâneo, ou dê um googlada de imagens em “X-salad” e “X-salada”. Ou podemos citar os inúmeros Maicons nascidos na década de 80. Somos bons também na criação de verbos com palavras estrangeiras como plugar ou deletar, que usamos sem num flash. Não sei se isto é bom ou ruim, só sei que somos assim. Misturar inglês com português é nossa especialidade: software livre, Latinoware.
Agora, com los hermanos, não podemos escutar um castelhano, que disparamos de volta nosso Portunhol, o qual usamos na Latinoware. A nossa nova Língua Geral*, para nos virarmos em todas as terras, daqui até o grande irmão do norte.
Noel Rosa percebeu esta característica que interpretou como “Tudo aquilo, que o malandro pronuncia, em voz macia é brasileiro, já passou de português”, Já Caetano Veloso deu velocidade da internet a esta nossa característica, cantando, na canção de nome “Baby”: “Você precisa saber inglês, precisa saber o que eu sei e o que eu não sei mais”.
Não poderíamos esperar outra coisa de um país que foi composto por inúmeras línguas indígenas, e depois colonizados, falávamos, por 300 anos, a *Língua Geral, uma mistura de português e Guarani, para só depois iniciar a falar português através dos negros, porque não falavam nem a Língua Geral, nem o Guarani, e vinham de uma África também inúmeras línguas.
Mas não se mistura palavras impunemente. Ao misturar linguagem misturamos conceitos, ideologias.
SOFTWARE LIVRE BRASILEIRO: nacionalista, internacionalista, capitalista, socialista, republicano e democrático
O software livre nasce com a internet. E por isso é internacionalista por natureza. Ao mesmo tempo permite que as pessoas e empresas locais se apropriem de conhecimento e possam entrar no espaço tecnológico dominado por empresas multinacionais. Por isso é nacionalista.
Uma vez que generaliza a tecnologia quebrando monopólios de marcas, os editais de compras passam ser sobre bancos de dados, planilhas eletrônicas, processadores de textos, sistemas operacionais, e não dirigidos por marcas: Oracle, IBM, Microsoft, fazendo que estas tenham que disputar mercado, reforçando a lógica da livre concorrência, e apresentando sua face capitalista.
O que leva a ser republicano, pois o poder público tem opção de autonomia em relação às empresas fornecedoras de tecnologia. Todos nós votamos, para presidente, governador e prefeito, mas não votamos em licitações, pregões eletrônicos, e qualquer outra modalidade de compras estatais. Então a possibilidade de autonomia do poder público em relação à empresas fornecedoras do Estado, reforça o caráter republicano do Estado Brasileiro. E a radicaliza a democratização de tecnologia e conhecimento. Um mecanismo de natureza socialista sem parâmetros após a revolução industrial, que nos últimos 100 anos popularizou bens de consumo com nunca vimos no mundo. Para ter uma referência sobre a revolução industrial e o socialismo vale a pena ver os conceitos da BauHaus, escola de arquitetura alemã, referência da arquitetura moderna, anterior a versão capitalista do Le Corbusier.
Poderíamos chamar tudo isso de Social Democracia Brasileira, uma vez que empresas multinacionais importantes usam, desenvolvem e incentivam o uso de software livre, como a Oracle, a IBM, Novell. Mas temos um probleminha de direito autoral destas palavras no Brasil. As administrações do PSDB tem preferido acordos com empresas multinacionais e não tem se preocupado em deter a tecnologia no país. Em outras palavras, não tem usado e abusado do software livre. É para deixar a Rosa de Luxemburgo (nada haver com o técnico!) doidinha com o verão de Curitiba.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
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